Sempre
gostei de história. Quando na escola, ainda criança, vi a foto de Machu Picchu
num livro e fiquei alucinada. Desde então sempre tive vontade de ir para
lá. Ao longo do tempo, tive outras
prioridades e só consegui realizar meu sonho em 2013, já adulta, formada e casada.
A
viagem incluiu 16 dias no Peru e Bolívia.
Me preparei lendo blogs, conversando com amigos que já tinham feito esse
trecho e também lendo o livro chamado “O Guia do Mochileiro- Um roteiro pela
Bolívia e Peru” escrito por um mochileira, cheio de detalhes e dicas muito boas.
Conhecemos
brasileiros de todas as idades, cidades e objetivos. Gringos de todas as tribos,
cores e idiomas, nos fazendo acreditar que essa região é um destino realmente
muito procurado e eclético.
Comemos
bem (Lima), comemos mal (Cuzco), passamos frio, vimos paisagens de tirar o
fôlego e presenciamos uma triste realidade social.
Nos
vilarejos do interior do Peru e Bolívia, vendo as cholas com seus filhos de
bochechas marcadas pelo frio, a sensação era de passado, retrocesso, como se
estivéssemos voltado no tempo, num tempo sem desenvolvimento, rupestre e
rudimentar.
Abaixo
as etapas da viagem, “tentando” ser breve, pois na verdade, as lembranças e
histórias dariam para escrever um livro!
Lima (ida)
Fomos
de avião, passando primeiro por Lima. Ficamos no hostel Loki, no bairro de
Miraflores, o bairro mais elitizado de Lima e mais seguro também.
Fizemos
um city tour pela bairro, naquele tradicional ônibus aberto para turistas.
Andamos pelo shopping Larcomar, todo aberto, na beira do oceano pacífico. O
charme ficou para o pôr-do-sol na Plaza de los enamorados.
Feirinha
à noite, muito comércio, bares, restaurantes, muitos turistas. Enfim, o movimento
de Miraflores é encantador. O melhor ceviche e pisco sour de nossas vidas foram
saboreados na Calle de las Pizzas, onde podem ser encontrados desde pizza até uma
boa salsa e reaggeton, típico limenho.
Tradicional Torta 3 Leches
Calle de Las Pizzas- Miraflores
Cuzco
Após
2 dias em Lima, pegamos um vôo para Cuzco, onde o cenário é totalmente
diferente da capital. Cidade montanhosa, cheia de ladeiras, numa altitude de
3400 metros.
Já
na recepção no hostel Loki, tomamos o famoso chá de coca para ajudar prevenir
as náuseas e dor de cabeça, muito normais nos turistas do mundo todo devido à
altitude. Chá delicioso por sinal !
Após
uma andada pelo centro para `desbravar o território`, já fomos nos informando
sobre os passeios e tours. Achamos seguro fechar tudo com a agência de passeios
dentro do hostel, afinal se furassem, tínhamos a quem reclamar.
Cuzco
A saga do ingresso para Machu
Picchu
O
primeiro susto foi quando descobrimos que os tickets para Machu Picchu naquela
semana estavam praticamente esgotados. Tomamos uma bronca de uns brasileiros que
encontramos, dizendo que tínhamos que ter comprado no Brasil, pela internet.
Desespero!!!! Pegamos um táxi e fomos para a casa municipal de turismo onde
havia a última esperança. Chegando lá, uma fila gigante e a notícia: só havia o
ingresso mais caro, aquele que inclui o acesso à trilha da montanha Machu Picchu. Mas como quem está na chuva é para se molhar, compramos esse ingresso mesmo. Chegando de volta ao hostel, lembramos do principal: olhar na previsão do
tempo pois com chuva forte o Parque é interditado pois há risco de inundação e o
pior........ o dinheiro NÃO é devolvido. Vimos que no dia comprado haveria a
pior chuva dos últimos tempos. Isso que programamos a viagem para um mês que não
chove no Peru (mais uma prova que a mudança climática existe, rsrsrs). Bora
voltar à casa de turismo e tentar trocar o ticket. Chegando lá, a atendente
disse que o ticket de um determinado dia é válido até para o dia seguinte. E o
medo??? No papel estava “válido somente para esta data”. Confiar na palavra da
moça ou pagar pela taxa de mudança de data? Na verdade, mesmo que nós
escolhêssemos a 2* opção, a moça se
recusava aceitar, quase dizendo que eu era doida de querer gastar dinheiro com algo que não era necessário. Mais uma diferença cultural,
pois lá a palavra das pessoas vale mais que qualquer papel, ou seja, é tudo no
“fio do bigode”, como dizemos por aqui.
Voltando
exaustos pro hostel com a missão de comprar o ticket para o trem que levava à Águas Calientes (município de Machu Picchu). Não sei se foi mais difícil lidar
com a internet lenta do computador do hostel, ou se foi saber que os trens
estavam quase..... ESGOTADOS!!!!! O
jeito foi ir para Machu na tarifa mais cara, de primeira classe, com
ar-condicionado e serviço de bordo pela bagatela de R$ 300 dólares cada um.
Isso mesmo!!! Mais uma vez seguimos o lema “quem tá na chuva é para se molhar”.
A
3* e última etapa da saga foi trocar a data do hostel de Águas Calientes, única
reserva agendada e paga desde o Brasil. Não me perguntem o porquê de ter me
preocupado em reservar o hostel e não ter comprado o ingresso para o Parque. Nem eu me entendi....
O Vale Sagrado
Como
manda o figurino, fizemos o Vale Sagrado antes de ir para Machu Picchu para
entender o contexto histórico, com um passeio comprado na própria agência do
hostel.
Incrível
como os guias são extremamente competentes e te fazem entrar na história Inca de
uma forma inacreditável. Ollantaytambo, Pisac, Puca Puccara, Chinchero,
Urubamba e outros vilarejos que não lembro o nome, fizeram do passeio de um dia
todo, simplesmente inesquecível.
É
recomendável comprar o boleto turístico municipal, um pacote que dá acesso a todos esses lugares.
Primeira parada rumo ao Vale Sagrado
Mercado de Pisaq
Vilarejo de Chinchero
Vilarejo de Chinchero- capital das lãs de alpaca
Águas Calientes + Machu
Picchu
A
viagem de trem foi maravilhosa. Paisagens dignas de livro de fotografia. Os
vagões confortáveis, com ar-condicionado, banheiro, chazinho e bolacha.
Chegar
1 dia antes em Águas Calientes foi ótimo. Andar pela cidadezinha, comer num
restaurante típico e se embrenhar na feirinha de artesanatos fez com que o dia
passasse voando.
Chegado
o grande dia, fomos às 5h30 da manhã para a fila do ônibus que leva a Machu
Picchu. Pensando que seríamos os primeiros, encontramos uma fila enorme! O bom
é que há muitos ônibus então não esperamos muito.
Após
cerca de meia hora, chegando ao parque: mais fila! Enquanto esperávamos, já
fomos fazendo amizade para tentar formar um grupo e rachar um guia. Com isso
perdemos cerca de meia-hora, mas para mim, fazer a visita com a guia falando
espanhol foi extremamente necessário, para entender melhor a função de cada
local e suas curiosidades.
Finalmente
entramos no parque. Logo nos primeiros passos, o pensamento foi: valeu a pena!
A distância, a grana, os perrengues com o ingresso, enfim! O lugar é mágico,
uma energia indescritível...E cada palavra da guia peruana nos tornava mais
encantados e fascinados com a cultura Inca. O tempo ajudou e vimos todos os
detalhes sem pressa...
Já
que pagamos, decidimos fazer a trilha até a montanha Machu Picchu, que nos
custou mais de 4 horas, ida e volta. Bastante cansativa, cada passo era um
desafio. A altitude realmente judia e a trilha de pedra completa o sacrifício.
Mas, chegando ao topo, tudo vale a pena pois a paisagem de Machu Picchu lá
embaixo encanta.
A viagem de trem
Chegando em Aguas Calientes
A cidadezinha
A felicidade em ver coleta seletiva
Finalmente lá!
Parece uma pintura...
Os detalhes impressionam....
Wanna Picchu ao fundo
Uma obra divina
Após quase 3 horas de caminhada
A incrível aventura de volta
a Cuzco
Tinha
pesquisado no Google que Salineras de Maras ficava no caminho entre a estação
de trem de Ollantaytambo e Cuzco. Então decidi que pediria para a van nos
`largar` pelo caminho...
O
trajeto de van foi uma aventura. O motorista falava ao telefone, dirigia com
uma mão só e quase batemos de frente com outro carro. Até que uma espanhola
brava, xingou o motorista e todos os passageiros começaram a gritar. Foi
cômico!
Largados
na estrada, negociamos com um taxista para que nos levasse a Salineras de Maras
e também a Morae, outro ponto turístico. Dois passeios que valem a pena.
Na volta, ele nos perguntou se podia dar carona aos professores do vilarejo e é claro que aceitamos. Quando vimos, entraram mais 6 pessoas no carro! Era professor em cima de mim, do Luiz e mais 3 no porta-malas. OK, pensamos nós, são professores que levam educação a esse pobre povo, mas quando vimos o taxista cobrando deles, ficamos revoltados. Não foi uma simples carona, mas sim um corrida extra.
Na volta, ele nos perguntou se podia dar carona aos professores do vilarejo e é claro que aceitamos. Quando vimos, entraram mais 6 pessoas no carro! Era professor em cima de mim, do Luiz e mais 3 no porta-malas. OK, pensamos nós, são professores que levam educação a esse pobre povo, mas quando vimos o taxista cobrando deles, ficamos revoltados. Não foi uma simples carona, mas sim um corrida extra.
Largados
na estrada novamente, pegamos um ônibus de finalmente nos levava a Cuzco.
Porém, devido ao horário, percebemos que se tratava de um ônibus escolar,
lotado, cheio de crianças estridentes, jogando bola e se batendo dentro do
ônibus. E nós em pé, cheio de malas.
Salineras de Maras
Cuzco Histórico
No
dia seguinte fizemos o passeio Cuzco Histórico (passeio comprado, com guia), incluindo um bom tempo na Catedral
que é maravilhosa e cheia de história.
Parada obrigatória! Depois fomos a algumas ruínas ao redor da cidade e
finalizamos numa grande loja que vendia peças de alpaca (lã peruana).
A infindável viagem entre
Peru e Bolívia
Chegado
o momento de partir para a Bolívia, numa infindável e tenebrosa viagem noturna
de 14 horas, em um ônibus cheia de cholas cheirando a xixi com seus sacos de
pano gigantes, e para mim é um mistério o que levam dentro dele. Algumas levam
seus filhos, outras seus artesanatos e outras talvez sua casa, rsrs.
Para
completar, a passagem na fronteira de madrugada e a descida obrigatória do
ônibus para carimbar o passaporte num lugar bagunçado e sombrio.
Neste
dia eu chorei! O choque cultural e as condições de higiene foram espantosos. Mas
sobrevivemos!
Rodoviária de Cuzco
Copacabana e Isla Del Sol
Chegamos
em Copacabana sem hospedagem definida, mas não tivemos problemas em encontrar.
Compramos o bilhete do barco para o dia seguinte, rumo à encantadora Isla Del
Sol. Ficamos o dia deitados na coberta, pois o frio castigava.
No outro dia, o caminho à Isla foi lindo. O azul turquesa do Lago de Titicaca (lago navegável
mais alto do mundo) se misturava as montanhas geladas ao fundo. Frio, muito
frio! Não sentia as pernas, mas o trajeto passou rápido.
Chegando
lá fizemos a trilha do norte ao sul da ilha a pé, onde vimos as belezas
naturais mais lindas de toda a viagem.
Alugamos
um quarto bem estruturado e jantamos à beira do lago, admirando a linda
paisagem. O aniversário do Luiz foi celebrado em grande estilo.
Cenas da caminhada ponta a ponta da ilha
La Paz
De
Copacabana pegamos outro ônibus rumo à La Paz, onde a altitude é ainda maior.
Por isso este fluxo da nossa viagem, para irmos nos aclimatando aos poucos ao longo das cidades, das mais baixas para as mais altas.
Tínhamos
contato de um taxista lá, que um amigo nos passou (Obrigada Ivan!), e como só tínhamos 1 dia e
meio, fechamos um preço para fazer um city tour compacto com ele, incluindo a
estação de esqui Chacaltaya.
Havia
tido uma nevasca no dia anterior, então a subida ao monte gelado num carro de
passeio foi regada a paradas e derragapens. Adrenalina pura!
Desbravamos
a cidade de forma rápido e gostamos do que vimos e comemos.
Agora
era enfrentar a viagem de volta a Cuzco e Lima, de onde partia nosso vôo de
volta ao Brasil.
Hora de dizer “Tchau” e
talvez um “Até Breve”
Tempos
depois fiquei sabendo que não precisaríamos ter voltado todo o trajeto para Cuzco, e que
existe uma compra de passagem chamada ‘múltiplos trechos’ que permite você
chegar por um lugar e ir embora por outro pelo mesmo preço.
Enfim....
Chegamos
com antecedência no aeroporto de Cuzco, rumo à Lima, de onde partia o vôo para
o Brasil. Mas quando chegamos os atendentes começaram a gritar dizendo que
estávamos atrasados e que o vôo estava partindo. No caminho, lendo uns papeis
que nos deram, vi que estávamos indo para a cidade interiorana de Arequipa, pois nosso vôo havia sido
cancelado e nos encaixaram neste, que ía para Cuzco, mas fazia escala em Arequipa. Chegando num
aeroporto minúsculo, em reforma, descemos do avião e fomos pegar as malas,
desesperados. Não achando nada, fomos informados que não precisávamos ter
descido no avião e que nossas malas não foram tiradas da aeronave. #mico
Mais
um dia em Lima, aguardando o dia do retorno, descansamos, vimos fotos e relembramos
essa incrível jornada que, com certeza, nos fez voltar diferente do que fomos,
com muita bagagem de vida.
Para
fechar com a adrenalina que nos acompanhou toda a viagem, estavam fazendo
vistoria de malas no aeroporto por conta
de uma turista inglesa que havia entrado com muita cocaína no país. Até aí tudo bem, se não fosse o detalhe de que eu
estava com um pacote de farinha de maca (erva) peruana na mala, encomenda da minha mãe
para combater a menopausa, segundo uma matéria que ela viu na TV. Mas a minha mala não foi farejada pelos cães policiais e viemos embora tranquilos, certos de que realmente essa foi uma experiência i.n.e.s.q.u.e.c.í.v.e.l !!!