sábado, 11 de março de 2017

Enxoval em Las Vegas

A notícia da gravidez veio mais rápido do que esperávamos!!! Tentamos e logo conseguimos...
Tínhamos férias próximas mas ainda não havíamos decidido o destino. Estados Unidos era uma opção, então porque não juntar o útil ao agradável e fazer uma viagem “turismo-enxoval”? (depois faço um post só com a parte turística da viagem)
Nesse período eu estava de 17 semanas, ou seja, no começo do 2° trimestre, considerado o melhor da gravidez para esse tipo de programação.
Como já conhecíamos Miami, decidimos fazer o circuito Los Angeles- Las Vegas, que eram dois locais que estavam na nossa wish-list.
Vimos que em Las Vegas a taxa era um pouco mais baixa que Los Angeles, então deixamos para comprar tudo lá, sendo o destino final da viagem.

O Enxoval
Fazer enxoval nos EUA ainda vale a pena, tanto pelo valor (que varia com as flutuações do dólar, mas mesmo assim costuma compensar), quanto pela variedade e qualidade dos produtos.
Gastamos cerca de 2mil dólares e trouxemos bastante coisa, inclusive o carrinho, que é o item que costuma valer mais a pena.
Mas é preciso ter cuidado com o excesso de bagagem e com o controle da receita federal no Brasil, que está cada dia mais rigorosa. Nós decidimos declarar e pagar o imposto do carrinho, do que evitar complicações (para detalhes, podem me escrever)

A Lista de Compras
No Brasil, fiz uma lista de compras e falei com alguns amigos que tinham feito enxoval no exterior e achei que estivesse tudo resolvido.... era só chegar e comprar! Até cogitamos contratar uma consultora brasileira para nos ajudar, mas achamos caro e queríamos mais liberdade se a compra fosse feita só por nós dois. (depois veio o arrependimento)

A Saga
Fomos na ‘Babies R Us” de Las Vegas, cerca de 20 min de carro da Strip, rua mais famosa de Las Vegas, onde estávamos hospedados.
Chegando lá, nos deparamos com uma enorme loja, com muitas opções e quase nenhum vendedor para ajudar (o que é comum nas lojas americanas).
Em cada dúvida, tínhamos que ir perguntar no caixa ou no SAC da loja ou então pesquisar na internet na hora (contratar um aparelho de internet móvel junto o carro alugado foi a MELHOR coisa que fizemos).
Também teve a questão da língua, pois falar inglês é uma coisa mas falar inglês técnico de bebê é outra bem diferente... tipo como dizer “bomba manual para esgotamento de leite” ???

A primeira dificuldade foi o carrinho. Nenhum modelo que eu havia pesquisado no Brasil estava disponível fisicamente na loja (e sem previsão de chegada). Havia muitosss outros, mas eu metódica como sou, queria um que já tivesse pesquisado afinal fiz um estudo completo de uns 5 modelos, tinha até uma tabela com as informações técnicas de cada um.
Compramos poucas coisas e todas para as outras (inclusive o carrinho) ficamos de voltar outro dia.

No dia seguinte fomos ao outlet South. Escolhemos ele pois lemos que o North era aberto, então como o calor estava pesado, optamos pelo coberto com ar-condicionado. Lá as coisas fluíram melhor. Paramos na Carter`s e fizemos a festa. Apesar de não estar em grande liquidação (a troca de coleção havia sido 1 semana antes), mesmo assim valia a pena pela variedade e qualidade das roupas. Compramos também em outras lojas do outlet, principalmente calçados: Crocs, OshKosh, GAP Kids, Disney Store, etc.
Só no último dia da viagem é que voltamos na “Babies”e compramos um carrinho trio (carrinho+bebê conforto+Moisés) da Chicco, o Chicco Urban. Não era o planejado, mas é um carrinho bem falado, depois quando eu usar faço uma avaliação aqui.

Para ajudar, na hora de pagar o carrinho, tivemos problema no cartão de crédito. Com a loja fechando, tivemos que sair atrás de caixa eletrônico, sacar dinheiro do cartão de crédito... O nosso vôo era no dia seguinte, não daria tempo de voltar. Ufa, só adrenalina!
A babá eletrônica também nos deu trabalho. Íamos comprar na “Babies”, mas vimos na internet que no Wall Mart estava mais barato. Fomos lá e não tinha em estoque... era em outra loja há 30 min dali. Depois da peregrinação, compramos um modelo similar por um pouco mais caro. Mesmo assim, o preço é muito mais baixo que no Brasil.

Dicas Valiosas:

·   - Outros locais dos EUA não tem a mesma facilidade que Miami para fazer enxoval (principalmente funcionários que falem português ou espanhol);
·   -  Se você quer algo muito específico, compre pela internet e peça para entregar no hotel (consultando previamente, claro, se o seu hotel aceita guardar encomendas e o custo disso);
      - Wall Mart e Target são bons lugares até mesmo para comprar roupinhas e acessórios. Vá neles antes de ir para a Carter`s, ou seja, compre as coisas mais simples lá.
·  - É difícil combinar uma viagem turística com enxoval por conta da canseira, principalmente se estiver muito frio ou muito calor. Se você planeja fazer isso, reserve mais dias para fazer tudo num ritmo mais lento (eu tive que excluir o Grand Canyon por conta da canseira e do calor);
·    - Chegue no local e já verifique onde fica o banheiro. Durante as horas de compras, você vai precisar fazer xixi a toda hora, não segure por muito tempo;
·   - Pesquise termos em inglês do que você precisa comprar para chegar na hora e saber pedir para vendedor;
·    - Se tiver no orçamento, contrate uma personal shopper brasileira, eu imagino que valha a pena;
·   - Comida americana é comida americana. Na gravidez precisamos nos alimentar bem, então apesar de difícil, manere nos fast foods. Tente localizar restaurantes brasileiros, comprar frutas, lanches naturais e barras de cereais nos mercados. Não esqueça de comer bem durante as horas de compras. Mais importante do que o enxoval, é a saúde do bebê;
·   - Não se desespere se não conseguir comprar tudo o que planejou e não se empolgue com todas as novidades que ver. Primeiro veja se realmente será útil a você e se caberá na mala. Eu tive que deixar alguns itens que não caberiam de jeito nenhum na mala;
·    - Geralmente a própria loja de artigos para bebê (como a “Babies R Us”) já vende a capa de lona para embalar o carrinho para despachar. Nós não sabíamos disso e rodamos Las Vegas inteira procurando uma mala grande ou uma sacola de lona para trazer o carrinho (a maioria das cias aéreas não aceitam ou cobram para despachar caixas).  Tínhamos desistido de achar e já imaginávamos pagar a taxa da cia aérea (caríssima por sinal), quando na hora de pagar o carrinho perguntaram se íamos precisar da capa pra transportar, que custava só 12 dólares. Ninguém entendeu a nossa cara de alívio quando respondemos: SIMMMM, precisamos!

     Seguindo essas pequenas dicas, acho que a experiência será incrível... Não tem coisa melhor do que preparar tudo com carinho para o neném que chegará. É uma fase maravilhosa !!!

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Caraíva e Trancoso

Sul da Bahia

Em nossas últimas férias decidimos ir para o Sul da Bahia.
Os destinos escolhidos foram Caraíva, um lugar mais rústico e menos conhecido, e Trancoso, mais turístico e conhecido.

Viajamos no final de abril que é considerado baixa temporada. A vantagem é que as praias estão incrivelmente vazias e há melhor negociação de preços (bugs, barcos, etc). A desvantagem é se deparar com alguns restaurantes e atrações fechadas, o que para quem gosta de agito pode ser uma frustração (o que não foi o meu caso! rs).

Nessa época também o calor não é insuportável e pode chover. Não pegamos nenhum dia de chuva, muita sorte mesmo! Escurece por volta das 17h30- 18h00, portanto se quiser aproveitar, tem que ser no esquema dormir e acordar cedo.

Em nossas viagens, sempre tentamos mesclar lugares e tentar desbravar ao máximo tudo o que há de interessante naquela região.
A primeira parada foi em Caraíva, uma vila super peculiar, onde não entra carro, não há asfalto nem calçada. Para andar, pé na areia mesmo!  O clima é hippie-chique, ao som de MPB, bossa-nova, surf-music. 

Eu particularmente achei um pedaço do paraíso. Ficamos lá 4 dias e depois partimos para ficar mais 3 em Trancoso, um rústico-sofisticado também encantador.  Realmente fomos muito felizes na escolha.

CARAÍVA

Como chegamos: pegamos um vôo até Porto Seguro e depois um táxi até Caraíva (2,5 horas) que nos deixou na beira do Rio Caraíva. Depois atravessamos de canoa (isso mesmo, canoa, por isso não exagere na mala). Apesar de a vila ser pequena, quando a pousada é distante do rio, é necessário contar com a ajuda de mulas e cavalos, que por R$ 20,00 levam toda a bagagem até o local de hospedagem. Não foi o nosso caso, pois a pousada ficava a 5 minutos a pé do rio.

Indicações de taxi:  usamos e aprovamos os dois, muito simpáticos e honestos
Jonguinha: 73- 99636193
Nandi: 73- 99920281
Valores: Porto Seguro->Caraíva: R$ 270 // Caraíva->Trancoso: R$ 200 // Trancoso->Porto Seguro: R$ 180,00

Onde ficamos:  há vários opções, das mais simples, as mais arrumadinhas. Nós ficamos na Pousada Casinhas da Bahia, uma ótima relação custo X benefício . Lembrando que apesar de o lugar ser rústico, os valores não são baixos e isso também vale para os restaurantes.

Vista o rio Caraíva

Igrejinha de Caraíva

Dia 1

Dia/Tarde: ficamos no restaurante Coco Brasil, que possui espreguiçadeiras e quiosques de frente para o mar, com música e comida boas. Não tem taxa de cadeira, só paga o que consumir. Lá comemos um delicioso penne com peixe e trio de brigadeiro.

Noite: comemos pizza no Bar do Porto, a luz de velas, com delicioso som ao vivo de voz, violão e percussão. Tentamos esperar até meia-noite o início do forró do Pelé (que se alterna com o forró Ouriço), mas o cansaço nos levou de volta para a pousada.

Trio de brigadeiros do Coco Brasil

Dia 2

Dia/Tarde: fomos para a famosa praia do Espelho, que apesar de linda, perdeu para Corumbau que fomos no dia seguinte
Fechamos com o pescador Titi para nos levar até lá de barco por R$ 300 o dia todo. Há a opção de ir a pé, mas é uma caminhada bem longa sob o sol, então preferimos não arriscar. No caminho ele parou no recife de Tatuaçu onde tem corais e peixinhos e depois da praia do Satu, linda, completamente deserta e com uma lagoa de água doce para se refrescar.
Chegando no espelho, vimos alguns restaurantes com boa estrutura mas com preços bem salgados. Uma refeição para 2 pessoas não sai por menos de R$ 150,00.
Almoçamos um bobó de camarão no restaurante/pousada Bendito Seja. Adoramos!
Chegamos de volta já com um fominha e comemos um pastelzinho de arraia no Boteco do Pará.

Lagoa da Praia do Satu

Restaurante da Pousada Bendito Seja


Noite: Demos uma volta pela vila e comemos um ceviche no bistrô Comida do Mundo. Apesar de gostoso, era pequeno e caro. Então fizemos um complemento com um lanche delicioso no restaurante/ cachaçaria Caraíva, um dos mais movimentados da beira do rio.


Dia 3

Dia/Tarde: fomos na praia de Corumbau, que surpreendeu pela sua beleza. É uma praia deserta bem extensa, com um braço de terra que avança o mar. Na maré baixa, você consegue andar sobre essa `ponta`, o visual é de tirar o fôlego.
Alugamos um bugue por R$ 180 , para o bugueiro nos levar de pois ir buscar. No trajeto, de aproximadamente 30 minutos, atravessa-se uma reserva indígena onde a vegetação de restinga dá um visual mais árido, o que rende belas fotos.
Chegando no rio Corumbau, é necessário atravessar de canoa (R$ 10/pessoa). Mais 10 minutos de caminhada pela praia e chega-se na área turística da praia, onde existem meia dúzia de restaurantes com suas respectivas barracas.
Sinceramente, foi uma das praias mais bonitas que conheci na vida e ainda sem ondas, o que adoro. Como chegamos cedo, era aquele piscinão azul só para nós, surreal!
Passamos o dia lá, ficamos no bangalô e comemos no restaurante Panela de Barro, uma comida caseira fresca e deliciosa, com preço bem melhor do que Caraíva.
Ficamos lá até umas 15h, quando encontramos o nosso bugue do outro lado do rio. O bugueiro João, um índio pataxó muito simpático nos levou para a zona onde os índios vivem hoje em dia, explicou como funciona a vila e mostrou até a casa dele. Engana-se quem acha que ainda existem ocas. O governo construiu casas populares que abrigam os índios remanescentes.

Caminho para a praia de Corumbau

Praia de Corumbau: calma e azul


Noite: Fomos num suposto forró que estava acontecendo no bar Pisa no Fulô, mas não houve público... baixa temporada tem dessas! Então vimos a lua cheia maravilhosa em frente ao mar e depois comemos um lanche de mignon (essas alturas já estávamos em crise de abstinência, de tanto comer peixe, rsrs) no restaurante Aquarius, bem gostoso!


Dia 4

Dia/Tarde: fizemos a tão famosa descida de boiacross pelo rio Caraíva. O horário bom de descida depende muito da maré, então nos informamos um dia antes. Pagamos R$ 50/pessoa para o Titi (o mesmo da praia do Espelho) nos levar até a prainha, lugar de onde geralmente começa o passeio. Nesse valor também estava incluso o acompanhamento de lancha durante o percurso, pois quando a correnteza não está forte, o passeio chega a durar até 4 horas. Então em alguns momentos ele amarra a corda na boia e puxa de lancha, o que também é divertido.
O passeio durou 1 hora e então fomos para a ponta da praia, onde o mar encontra o rio e ficamos lá curtindo a paisagem. Lá é a zona mais turística de Caraíva, onde há cadeiras, tendas e alguns quiosques vendendo bebida e porções. De lá fomos para a Coco Brasil, onde comemos camarão empanado.

                                                                                       Descida pelo rio de boia

Noite: fizemos um almojanta na casa do meu primo que mora lá há 10 anos. Ele é dono do restaurante Mangaba, conhecido por sua moqueca. Como o restaurante estava fechado (só abre nos meses de alta temporada), fomos honrados com a moqueca feita para nós na casa dele. Espetacular!!!

                                                                              Moqueca do restaurante Mangaba

TRANCOSO

Como chegamos: táxi
Onde ficamos: Hotel Pousada Mar à Vista.
Maravilhoso, ótimo custo X benefício, vista sensacional para o mar, localizada no famoso Quadrado.

Os preços em Trancoso são ainda mais altos que Caraíva. É um lugar elitizado, então isso se reflete em todos os serviços e produtos. Mas apesar disso, achamos que valeu muito a pena conhecer.

Dia 5

Dia/Tarde: conhecemos o território, demos uma volta no Quadrado (campo de grama, em frente à famosa igreja, com vários restaurantes em sua volta) e depois..... praia!
Tínhamos lido que a praia dos Coqueiros era mais popular e a dos Nativos mais vip. Sinceramente, como fomos em baixa temporada os dois lados da praia estavam muito parecidos. Gostamos da barraca da Silvana na praia dos Coqueiros e por lá ficamos. Comemos um ceviche delicioso.  

Vista do Mirante do Quadrado


                                      
                                                                        A quarta igreja mais antiga do Brasil

Noite:  De manhã já havíamos reservado mesa no famoso restaurante Capim Santo. O ambiente é maravilhoso e a comida divina, mas o preço também acompanha. Vale ir 1 noite para conhecer!


Talharim com ragu de linguiça 


Dia 6

Dia/Tarde: pegamos uma van de moradores (R$ 7) e fomos até Arraial D’Ajuda, num trajeto que durou cerca de 1 hora.
Apesar de dizerem que a praia de Pitinga é a mais bonita, ficamos na praia central, a Mucugê. De novo, em baixa temporada tudo fica mais calmo, sem muvuca e as praias bem limpas.
Escolhemos ficar na barraca La Plage, que tinha bangalôs confortáveis, DJ, banheiro limpo e não estava cobrando consumação. Comemos tapioca.
Subimos para o centro de mototaxi  e almoçamos no restaurante Portinha, um por kilo gostoso, na rua central, a Mucugê. Infelizmente não conhecemos a rua à noite, pois de dia a maioria dos restaurantes estavam fechados.
Passeamos pelo centro histórico e retornamos de van para Trancoso.
Ps.: a van só é recomendada se você não se importar em fazer um trajeto nada turístico. O transporte é utilizado por trabalhadores da região , vai bem cheio e fazendo várias paradas. Para nós valeu a economia, pois um taxi nos cobraria umas R$ 200 ida/volta, no mínimo.

                                       
                                                                        Vista do Mirante de Arraial D`Ajuda

Noite:  Andamos novamente pelo quadrado e comemos um lanche gourmet no conceituado restaurante Ushua. Achei caro!

Dia 7

Dia/Tarde: fomos novamente à barraca da Silvana, mas desta vez comemos o prato da casa, o peixe na Brasa. No meio da tarde, subimos a ladeira de mototaxi e curtimos a piscina do hotel.

Peixe na brasa 


Noite:  Demos novamente a voltinha no Quadrado, mas por indicação da Patricia, dona da pousada, fomos no shushi Aki, delicioso e com preço bem mais justo do que os restaurantes do circuito Quadrado. Acabamos a noite com um forró pé de serra que acontece toda sexta-feira no Café Cultura, próximo à igrejinha.

De volta para casa, ficamos com um gostinho de quero mais, com certeza essa é uma região que ficará em nossa lista para uma sessão remember no futuro.


Espero que tenha ajudado quem planeja ir para lá!

domingo, 21 de fevereiro de 2016

O com­pri­mento das cadeias

Essa texto não é meu. Fui apresentada a ele em uma das aulas do meu MBA em sustentabilidade e achei interessante compartilhar aqui, pois traz uma ótima reflexão sobre o comprimento das cadeias de abastecimento.
Enjoy it!



Paulo Brabo, 26 de novembro de 2015

O com­pri­mento das cadeias

Estocado em Manuscritos

A origem do fun­da­men­ta­lismo de mercado, sua base inte­lec­tual, é a noção de que não haverá jamais con­sequên­cias não cal­cu­la­das para as coisas porque, como em tudo se coloca um preço, você crê que está pagando por todas as con­sequên­cias das suas ações.
Sir Partha Dasgupta, How To Price a Forest and Other Eco­no­mics Problems
A sin­gu­la­ri­dade do modo de vida que tes­te­mu­nhei em Urubici no final da década de 1970 pode ser arti­cu­lada de diversas formas. A com­pa­ra­ção com Shangri-Lá de Hori­zonte Perdido pode ser ine­vi­tá­vel, porque um obser­va­dor entende de imediato que o caráter excep­ci­o­nal dos dois lugares – o vale da ficção e o da minha expe­ri­ên­cia – deve-se, em boa medida, ao seu relativo iso­la­mento.
Minha primeira e mais dura­doura impres­são sobre Urubici talvez tenha sido essa, a de que o lugar tinha sido poupado de alguma coisa que havia muito cla­ra­mente arrui­nado outros lugares; uma coisa que arrui­na­ria mesmo Urubici se encon­trasse ocasião de chegar até ali.
Um dos modos menos sen­ti­men­ta­lis­tas de arti­cu­lar a dife­rença é lembrar que a Urubici daquele tempo tinha sido poupada de um deter­mi­nado modelo econô­mico – um deter­mi­nado modo de ver e de perfazer o trajeto entre a produção e o consumo.
O Brasil da década de 1970 já operava com uma malha bastante complexa de produção e de dis­tri­bui­ção. Em con­traste, as cadeias de produção e de dis­tri­bui­ção em Urubici eram rela­ti­va­mente curtas.
Uma cadeia curta é quando você come o frango que criou, ou que comprou do seu vizinho. Uma cadeia longa é quando você come o frango que nasceu num cri­a­douro, foi engor­dado numa fazenda indus­trial, foi pro­ces­sado numa indús­tria e ficou arma­ze­nado em pelo menos um centro de dis­tri­bui­ção antes de ser posto à venda no seu super­mer­cado – sendo que cada uma dessas etapas ocorre, com toda a pro­ba­bi­li­dade, em lugares rela­ti­va­mente dis­tan­tes de você e uns dos outros.
Uma cadeia admis­si­vel­mente curta é quando um cidadão de Urubici veste uma camiseta que foi pro­du­zida em Blumenau. Uma cadeia longa é quando a camiseta que você veste tem uma etiqueta em inglês e foi pro­du­zida no con­ti­nente asiático.
O capi­ta­lismo, espe­ci­al­mente em sua mani­fes­ta­ção tecno-industrial, tende a produzir cadeias de produção e de dis­tri­bui­ção cada vez mais longas e com­ple­xas. Não é que o capi­ta­lismo dê por prin­cí­pio pre­fe­rên­cia a cadeias longas; são as ênfases capi­ta­lis­tas em pro­du­ti­vi­dade, espe­ci­a­li­za­ção e maxi­mi­za­ção dos lucros que acabam esti­mu­lando o alon­ga­mento das cadeias.
Sem nos darmos conta, patro­ci­na­mos cadeias de produção e de dis­tri­bui­ção que têm cada vez mais etapas, mais rami­fi­ca­ções, mais inter­me­diá­rios e mais depen­dên­cias. Nos casos de produtos de alta tec­no­lo­gia, essas cadeias acabam se des­do­brando em sistemas de uma com­ple­xi­dade bestial.
Um dis­po­si­tivo que teve o seu design esta­be­le­cido nos Estados Unidos têm os seus com­po­nen­tes pro­du­zi­dos em vinte países e três con­ti­nen­tes. Essa multidão de com­po­nen­tes mul­ti­na­ci­o­nais descobre modo de se reunir magi­ca­mente numa única fábrica da China, nas mãos de um único e anônimo ex-camponês, antes de atra­ves­sar mon­ta­nhas e mares e encon­trar o caminho de uma loja de shopping em São Paulo ou de um super­mer­cado de bairro em Campina Grande – tudo para que você tenha como jogar Candy Crush na sua próxima ida ao banheiro.

As pena­li­za­ções

À primeira vista as longas cadeias parecem não fazer outra coisa que premiar o con­su­mi­dor, porque efetuam a sua mágica de modo a pul­ve­ri­zar custos que a economia local não poderia ou não se disporia a cobrir. O resul­tado são preços menores para produtos que viajaram mais. Se quiser (e quem poderia resistir?) você pode pagar menos por um manteiga francesa, um peixe defumado cana­dense ou uma camiseta chinesa do que por produtos simi­la­res que foram manu­fa­tu­ra­dos a metros de você.
Natu­ral­mente esses milagres têm os seus custos, mas o sistema tem meca­nis­mos – a própria extensão das cadeias, a atração dos preços mais baixos – que tra­ba­lham para mantê-los ocultos.
Para entender os custos locais desse modelo econô­mico é preciso a dádiva de uma pers­pec­tiva que é cada vez mais rara. A mim essa pers­pec­tiva foi ofe­re­cida por Urubici naquelas minhas pri­mei­ras viagens a Santa Catarina.
Grande parte do que achei de admi­rá­vel no modo de vida do vale só era possível porque (e só per­ma­ne­ceu sendo possível enquanto) sua soci­e­dade não havia sido ainda seduzida e pena­li­zada pelo sistema de cadeias longas.
Permita-me examinar alguns aspectos dessas pena­li­za­ções.
► As longas cadeias minam a inde­pen­dên­cia e a auto­no­mia
Os uru­bi­ci­en­ses que conheci no fim da década de 1970 tinham um senso de auto­no­mia e de sufi­ci­ên­cia que chegava a inti­mi­dar. Não me lembro de ter tido medo de uma pessoa boa, um medo que era também uma espécie de admi­ra­ção, antes de conhecer aqueles homens e mulheres. Aquela era gente livre, como gente ide­al­mente deveria ser – e como eu não tinha visto ninguém na cidade con­se­guindo per­ma­ne­cer.
Meus amigos de Urubici tinham motivo para parecer livres e autô­no­mos: de fato eram. As cadeias curtas de produção e de dis­tri­bui­ção são brasões de auto­no­mia da soci­e­dade local, e nisso capa­ci­tam os seus habi­tan­tes em modos nume­ro­sos demais para contar.
São também parte essen­cial daquilo que se con­ven­ci­o­nou chamar de sus­ten­ta­bi­li­dade – o projeto de manter vivo e viável um deter­mi­nado modo de vida.
Seduzida pela aparente con­ve­ni­ên­cia das cadeias longas, a soci­e­dade perde de vista o que deveria parecer óbvio: que as cadeias longas tornam inviá­veis as cadeias locais.
O produtor local que perde seus com­pra­do­res perde não só o seu sustento: perde também a opor­tu­ni­dade de expor ao mundo, a si mesmo e a seus des­cen­den­tes a dig­ni­dade do seu modo de vida.
► As longas cadeias inibem a cultura local e tendem a riscá-la do mapa
Uma cultura local é um ecos­sis­tema de modos de fazer, um conjunto de feições dese­nhado pela história e pela geo­gra­fia. Tra­di­ções tornam-se tra­di­ções porque uma soci­e­dade decide cole­ti­va­mente, no espaço de gerações, que um deter­mi­nado conjunto de modos de fazer serve mais do que qualquer outra alter­na­tiva para representá-la diante de si mesma e distingui-la diante das outras.
Nenhuma soci­e­dade da história existiu com­ple­ta­mente isolada da influên­cia das outras, mas antes do nosso tempo nenhuma soci­e­dade teve que competir com uma cultura global.
A com­pe­ti­ção das longas cadeias de produção e de dis­tri­bui­ção invi­a­bi­liza a cultura local porque esta­be­lece como inviável o estrato mais fun­da­men­tal dos seus modos de fazer, aquele da sub­sis­tên­cia.
Quando no mercado local introduzem-se produtos sub­si­di­a­dos pelo com­pri­mento das suas cadeias, o pequeno produtor (ou o pequeno artesão) acaba enten­dendo que não pode con­ti­nuar sendo pequeno e produtor. Ele (ou pelo menos seus filhos) serão com­pe­li­dos a aban­do­nar os antigos modos de fazer. Via de regra darão ouvidos ao apelo uni­ver­sal para entrar no mercado, num cenário urbano ou pelo menos numa fábrica: querendo dizer, passarão a vender a sua mão de obra em vez da sua produção.
Serão empre­ga­dos.
É uma tran­si­ção tão radical que acaba dizi­mando no seu lastro todas as tra­di­ções e toda a cultura asso­ci­ada ao modo de vida anterior.
► As longas cadeias ocultam os custos locais das longas cadeias
Quando compra um artigo de 1,99 você via de regra não o faz por um ódio deli­be­rado à economia local. Na verdade, deter­mi­na­dos preços são tão excep­ci­o­nais que geram a impres­são de que ninguém está sendo pre­ju­di­cado por eles; parecem existir lite­ral­mente fora da com­pe­ti­ção.
O fato é que nada no planeta custa 1,99, a não ser que alguém fora do seu campo de visão esteja pagando a dife­rença. Essa trans­fe­rên­cia de custos é o meca­nismo mais essen­cial do sucesso das longas cadeias (ver abaixo), mas não é o único.
Quando a longa cadeia lhe oferece um produto a um preço muito inferior ao de um similar pro­du­zido local­mente, você se sente tentado a pensar que apenas os de fora estão sub­si­di­ando aquele preço.
A mate­má­tica, natu­ral­mente, é outra. Num sentido impor­tante, os produtos das longas cadeias são baratos porque não estão dando nada à economia local, exis­tindo à parte e sem qualquer com­pro­misso com ela. Via de regra, o custo das longas cadeias para a economia local é a economia local.
► As longas cadeias ocultam os custos globais das longas cadeias
Quando a produção é local, entra em ação um meca­nismo natural de con­ten­ção e de controle. Como a manu­fa­tura e o consumo acon­te­cem dentro das suas fron­tei­ras, a comu­ni­dade pode avaliar dire­ta­mente até que ponto os recursos locais estão sendo abusados, até que ponto a paisagem local está sendo des­ca­rac­te­ri­zada e até que ponto os tra­ba­lha­do­res locais estão sendo explo­ra­dos no processo.
As cadeias longas de produção ter­cei­ri­zam essas res­pon­sa­bi­li­da­des e ocultam cada um desses custos. Você compra o produto final, mas não tem como retraçar a partir dele as comu­ni­da­des que foram obli­te­ra­das pela nova hidre­lé­trica, as casas cen­te­ná­rias que foram aplai­na­das em esta­ci­o­na­men­tos, as espécies que foram desa­lo­ja­das ou extintas pelo avanço dos parques indus­tri­ais, os reti­ran­tes que foram arre­ba­nha­dos de seu modo de vida original a uma linha de produção con­fi­nada e insa­lu­bre.
Ter­cei­ri­zar res­pon­sa­bi­li­da­des rara­mente é uma boa ideia. Via de regra a extensão dos danos só aflora quando é tarde demais para corrigi-los – ocasião em que todos os envol­vi­dos poderão afirmar, sem mentir muito, que não tinham ideia clara do que estava acon­te­cendo.
Um exemplo do modo como as longas cadeias de produção e de dis­tri­bui­ção ocultam os custos globais que as sus­ten­tam é o caso da carne bovina.
Não é sem razão que na maior parte da história, em todas as geo­gra­fias, as pessoas comiam carne apenas oca­si­o­nal­mente, espe­ci­al­mente fresca. Criar um animal de corte requer con­si­de­ra­vel­mente mais recursos do que outras alter­na­ti­vas ali­men­ta­res. Com os 15.500 litros de água que são neces­sá­rios para produzir um quilo de carne bovina se produzem 12 quilos de trigo ou 118 quilos de cenoura.
O capi­ta­lismo se faz de louco e opera como se comer carne fosse algo natural como respirar ou beber água, mas a natureza opera de modo muito diverso. O que o sistema esconde é que é preciso queimar uma quan­ti­dade enorme de recursos para sus­ten­tar farsa tão esca­brosa.
Se é tão caro produzir carne, de onde um cara nada rico como você tira recursos para comê-la com tanta frequên­cia? O seu bife está sendo sub­si­di­ado, em parte pelo governo, em parte pelo planeta.
As longas cadeias mantém fora do seu campo de visão o acre de floresta amazô­nica que é der­ru­bado por segundo para dar lugar à criação de gado ou à produção de grãos des­ti­na­dos a ali­men­tar essa indús­tria. Um quilo de alcatra custa muito mais do que você poderia comprar, mas a extinção irre­ver­sí­vel das espécies e a obli­te­ra­ção sis­te­má­tica do pulmão do mundo têm feito a cortesia de pagar a dife­rença.
Grande parte do planeta está passando fome, mas para a sua con­ve­ni­ên­cia as longas cadeias ocultam que os recursos que sub­si­di­a­ram o seu chur­rasco poderiam ter sido empre­ga­dos para saciar uma pequena multidão. Você come o seu McLanche feliz sem ter de pesar que mais de 40% da produção global de soja, trigo, centeio, aveia e milho são usados para ali­men­tar não seres humanos, mas gado de corte.
► As longas cadeias ocultam os custos humanos das longas cadeias
Como estamos falando de sistemas com­ple­xos, com rami­fi­ca­ções em diversos con­ti­nen­tes, países e for­ne­ce­do­res, é por defi­ni­ção impos­sí­vel para o con­su­mi­dor acom­pa­nhar as even­tu­ais injus­ti­ças e atro­ci­da­des sociais patro­ci­na­das pelas longas cadeias do capi­ta­lismo ao longo do trajeto.
Você compra o seu smart­fone, mas não precisa ficar sabendo que as con­di­ções de trabalho em que ele foi montado numa fábrica chinesa são tão desu­ma­nas que as janelas são gra­de­a­das e os prédios providos de redes de segu­rança, na ten­ta­tiva de conter o avanço dos sui­cí­dios.
Você não precisa tes­te­mu­nhar o drama das famílias desa­lo­ja­das, das comu­ni­da­des e culturas riscadas do mapa, de gente em nada dife­rente de você roubada da sua dig­ni­dade.
Diminuir os custos e maxi­mi­zar os lucros é o mantra do capital. Os bate­do­res do capi­ta­lismo vivem sondando o planeta em busca da mão de obra mais barata dis­po­ní­vel, de modo a explorá-la nas suas longas cadeias.
Até recen­te­mente, por exemplo, a China era o grande centro de manu­fa­tura das roupas con­su­mi­das no ocidente. Esse eixo vem se trans­fe­rindo para Ban­gla­desh, onde as grifes encon­tra­ram mão de obra disposta a tra­ba­lhar por menos, com menos garan­tias e em con­di­ções de trabalho mais insa­lu­bres.
As grandes cor­po­ra­ções não mexem nesse tabu­leiro para perder. Elas não repassam para você um desconto que já não tenha sido pago por outro ser humano. A regra geral é esta: quanto menor o preço final de um produto de longa cadeia, mais brutais você pode concluir que foram as con­di­ções da sua manu­fa­tura.
► As longas cadeias separam o con­su­mi­dor do custo ver­da­deiro do que está con­su­mindo
“O capi­ta­lismo pre­da­tó­rio”, diz-me o ativista Robert David Steele, “baseia-se na pri­va­ti­za­ção do lucro e na exter­na­li­za­ção dos custos. Ele é uma extensão do con­fi­na­mento dos recursos comuns, das clau­su­ras, e é acom­pa­nhado pela cri­mi­na­li­za­ção dos direitos e costumes comuns que valiam ante­ri­or­mente”.
O que Steele chama de exter­na­li­za­ção dos custos é a própria essência da longa cadeia de produção e dis­tri­bui­ção. O capi­ta­lismo pre­da­tó­rio anda em derredor buscando recursos naturais e mão de obra baratos que possa tragar, não importa em que lugar do mundo.
Uma das con­sequên­cias desse modo operação é que ele aliena a soci­e­dade local do ver­da­deiro custo dos produtos que consome. Tendo sido exter­na­li­za­dos, os custos perderam toda relação com o preço final, e fica muito difícil estimá-los. Steele:
Pre­ci­sa­mos é de um sistema que preste contas inte­gral­mente de todos os custos. Por exemplo, meu colega J Z Lisz­ki­ewicz calculou que uma camiseta branca de algodão encerra cerca de 570 galões de água e entre 11 e 29 galões de com­bus­tí­vel, bem como um bom número de emissões e toxinas, incluindo pes­ti­ci­das, vapores de diesel, metais pesados e outros com­pos­tos voláteis – e comu­mente envolve ainda trabalho infantil. Pesar esses custos e seu impacto social, humano e ambi­en­tal tem impli­ca­ções para o modo como devemos orga­ni­zar a produção e o consumo que diferem em muito do presente capi­ta­lismo pre­da­tó­rio.
► As longas cadeias roubam a pers­pec­tiva – do que está acon­te­cendo e do que pode ser feito
Como resul­tado do men­ci­o­nado acima, todas as partes envol­vi­das são roubadas de pers­pec­tiva: uma visão clara e global das con­sequên­cias do que estão fazendo.
As soci­e­da­des locais por certo não têm essa pers­pec­tiva. O sistema colocou-as num ponto cego, e espera-se que se bene­fi­ciem pas­si­va­mente do sistema de longas cadeias sem ter que entender o que envolvem. A única atitude não-passiva da soci­e­dade local deve ser sua con­tri­bui­ção ativa para a manu­ten­ção de outras longas cadeias – con­tri­bui­ção de cujos custos as demais soci­e­da­des per­ma­ne­ce­rão igno­ran­tes, e assim por diante.
Os governos e cor­po­ra­ções por certo não têm essa pers­pec­tiva. Sua eficácia como ins­ti­tui­ções depende de igno­ra­rem e passarem por cima dos preços pagos pelas soci­e­da­des locais para o avanço de sua “causa maior”. Quando toda a Amazônia for um esta­ci­o­na­mento estarão ainda recusando-se a admitir que alguma coisa foi perdida.
Num sistema em que ninguém sabe exa­ta­mente o que está acon­te­cendo, em que ninguém sabe o ver­da­deiro custo de nada (quem pode ver­da­dei­ra­mente estimar o custo de um acre de mata der­ru­bado por segundo?), ninguém se sente res­pon­sá­vel e ninguém será chamado a prestar contas, a não ser que todos sejam.
Sistemas com­ple­xos sem espaço para res­pon­sa­bi­li­dade e pres­ta­ção de contas são um convite ao desastre. O desastre não é conhe­cido por recusar convites dessa natureza.
► As longas cadeias se tornam cadeias: o capi­ta­lismo é um sistema do qual ninguém consegue sair
Na Urubici do final da década de 1970, com seu regime de cadeias curtas, meus amigos conhe­ciam uma liber­dade que nos nossos dias tornou-se pra­ti­ca­mente impos­sí­vel de exercer.
Aqueles caras extraíam o seu sustento da terra (e pare um minuto para sentir quão século XIII soa essa ideia lida na telinha do seu smart­fone). Não arren­da­vam a sua força de trabalho para ter­cei­ros, mas empregavam-na para si mesmos. Não eram de modo algum soci­a­lis­tas, mas sub­sis­tiam à parte do mercado.
E, das into­le­rân­cias do fun­da­men­ta­lismo de mercado, esta é a primeira: o capi­ta­lismo não tolera que alguma coisa exista à parte do mercado. À parte do mercado ninguém deve ter per­mis­são para sentir que existe.
O capi­ta­lismo cor­po­ra­tista apropriou-se e reo­ri­en­tou todos os aspectos da cultura de modo a reforçar esse único dogma. É por isso que os filhos de meus amigos de Urubici trocaram aquele modo de vida por modos urbanos em outras cidades: para entrarem no mercado – porque quem não está no mercado não deve sentir que existe. É por isso que mandamos as crianças para a escola; não para que aprendam alguma coisa, mas para que aprendam a entrar no mercado – porque quem não está no mercado não deve sentir que existe. É por isso que as pessoas escrevem livros e pintam quadros, não para dizer alguma coisa ou para a glória da aventura humana, mas para vendê-los no mercado – porque quem não está no mercado não deve sentir que existe.
É por isso que neste mundo quem acontece de estar desem­pre­gado é com­pe­lido a sentir-se, de modo muito real, menos do que gente. A própria palavra faz questão de demarcá-lo. No regime capi­ta­lista um desem­pre­gado (que é, em termos estritos, uma pessoa livre) deve sentir que não tem emprego: não tem uti­li­dade, não tem dig­ni­dade, não tem lugar, não tem valor.
Se existe ide­o­lo­gia mais perversa, ou sistema mais efi­ci­ente de mani­pu­la­ção, esses não acabarão subs­ti­tuindo o capi­ta­lismo. O capi­ta­lismo é que se mostrará pronto a incorporá-los.

Este relato foi postado na Forja Uni­ver­sal em 6 de julho de 2014

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Devaneios sobre Sustentabilidade. Afinal, ela é possível?

Mais do que nunca ouvimos falar em sustentabilidade e na necessidade urgente de ela ser incorporada no modo de existência de pessoas e organizações.

Mas se é tão claro que a nossa sociedade corre sérios riscos se não rever seus hábitos e ações, por qual motivo isso é tão difícil de acontecer? Por que o discurso teórico é muito mais robusto do que os achados práticos ?

Na verdade, apesar da importância do tema, sinto que esta migração não está acontecendo e não acontecerá sem dor e muitos desafios a serem driblados.
Metaforicamente, seria como um barco remando contra a maré, se considerarmos que o sistema econômico atual é antagônico aos princípios básicos da sustentabilidade, que prezam o equilíbrio entre a esfera ambiental, social e econômica e o uso dos recursos atuais de modo a não prejudicar as gerações futuras.

Por existir um volume gigante de dificuldades, é que eu comemoro e vibro a cada iniciativa, cada projeto ou até mesmo cada pequena ação no dia a dia de um cidadão.
Desde o lançamento de um programa de coleta seletiva municipal, um parque eólico inaugurado, um projeto de incentivo ao voluntariado, até mesmo uma senhora utilizando ecobag no supermercado ou minha mãe separando o lixo em casa.



Se essas pequenas ações irão resolver o problema?
Sei que não (há muito mais que precisa ser feito) e não quero me passar por uma otimista tola. A minha comemoração é pelo passo dado, pela pequena vontade de mudança nessa areia movediça que nos faz permanecer na zona de conforto e que a mídia e o senso comum nos impõem. 
  
Sustentabilidade é a bandeira da vez e todo mundo que ser politicamente correto e se dizer sustentável. Mas e na prática?
Não é fácil lavar louça se os descartáveis são muito mais convidativos, não é fácil permanecer com o celular em bom estado se o modelo da última geração está em liquidação na Black Friday, não é fácil praticar a coleta seletiva se misturar tudo é muito mais cômodo, não é fácil participar de um voluntariado se colocar a responsabilidade no governo sobre todas as coisas é muito mais lógico, não é fácil se preocupar com o aquecimento global, afinal, o que são 2 graus a mais na temperatura da Terra se eu adoro o verão?
Quem age diferente disso, sim, recebe as minhas palmas!

Enfim, o processo é longo mas é preciso começar. E como já dizia meu amigo Arnaldo Lage “Não tenha medo de andar lentamente. Tenha medo de ficar parado.”

domingo, 25 de outubro de 2015

Veneza e Roma

5a Parada- Veneza

Veneza é realmente peculiar e divide opiniões: ou você gosta ou não gosta.
No meu caso, gostei tanto que ela ficou empatada com Paris no destino preferido da nossa Eurotrip.
É romântica, é aconchegante e você pode fazer tudo a pé, quer coisa melhor?
Ficamos 2 dias lá.
Hospedagem: B&B Room in Venice: San Marco, calle S. Antonio, 4414/A

Tenho que comentar sobre esse B&B! No geral, a hospedagem em Veneza é cara, então abrimos mão de ficar em hotel. Encontrei esse lugar no Google e fiquei feliz ao saber que pertencia à uma brasileira que mora na Itália, a Claudete, um amor de pessoa e que dos deu várias dicas de Veneza.
O quarto é bem localizado, confortável, limpo e o café da manhã espetacular.
Recomendo 100% !

Os canais
Se localizar em Veneza não é tarefa fácil.
Os canais pequenos e parecidos fazem qualquer turista se perder com facilidade.
Mas se perder por lá deve ser encarado como uma vantagem pois você admira a arquitetura e a rotina dos venezianos.



O roteiro

 1° dia:
Andamos sem rumo pelos canais, desbravando Veneza e suas vielas.

Almoço- Restaurante em San Marco
Não jantamos pois estávamos muito cansados, então durmimos cedo




2° dia:

Gôndola
Acordamos cedo para aproveitar bastante.
Fizemos o passeio de gôndola logo cedinho, pois ao longo do dia enche de turistas chegando a ter trânsito nos canais e na minha opinião, o passeio perde a graça.
O valor era 100 Euros mas conseguimos negociar por 80.
Sim, o valor é absurdo, mas ir para Veneza e não passear de gôndola é como ir para o Rio de Janeiro e não conhecer o Cristo Redentor, portanto vale o pensamento “se está na chuva, tem que se molhar”.



Campanário da Catedral de San Marco
Subimos o campanário da catedral, após enfrentarmos uma fila de cerca de 1 hora. De lá de cima, a vista panorâmica é sensacional!



“Bairros de Veneza”
No restante do dia, andamos bastante passeando sem rumo pelos bairros ou distritos.
Parávamos comer um pedaço de pizza ou um lanchinho no caminho, pois opções de comida existem a cada esquina.



Almojanta: comemos pouco e caro, num restaurante à beira da praça San Marco. Não fomos muito felizes na escolha, mas o que valeu à pena foi o Spritz, um drink típico italiano, delicioso.




6a e Última Parada- Roma

Partimos de trem de Veneza a Roma, nosso último roteiro onde ficamos 3 dias e meio.

Sinceramente, Roma deixou a desejar. Acredito que ela foi prejudicada por ser a última parada (já estávamos cansado e o dinheiro acabando), então a comparação com as outras cidades era inevitável. Outro fator que prejudicou foi o calor, que estava insuportável.

No geral, esperava uma cidade mais bem preparada para receber o turista. O metrô não abrange toda a cidade, existem poucas placas de sinalização, pouquíssimas árvores e a cidade é meio suja.

Outra decepção foi a pizza. Tentamos de vários lugares, mas nenhuma delas agradou.... faltava recheio, sabor e a massa era muito fininha!

Tanto em Roma, como em Veneza, é comum fontes espalhadas pela cidade com água de graça, geladinha.
Quanto à qualidade, não tenho certeza, mas acredito que a prefeitura não liberaria uma água não seja potável.

1° dia:
Coliseu e Fórum Romano
Apesar do sol escaldante, andamos por todo o coliseu e ruínas do fórum romano.
Aproveitamos um gramado na sombra para descansar um pouco, antes de ir ao monumento Vitorio.



Monumento Vitorio
Um grande palácio em frente à Piazza Venezia.



Almojanta: Massa num restaurante próximo ao Campo de Fiori (uma praça onde há várias barracas com comida e música)



2° dia:
Museu do Vaticano + Capela Sistina
Realmente a cereja do bolo de Roma.
O Museu do Vaticano é bonito e completo e a Capela Sistina, com a pintura de Michelangelo no seu teto atrai centenas de turistas, principalmente os religiosos.





Basílica de São Pedro
Grande e imponente, com detalhes históricos de cada monumento em seu interior.



Missa de Corpus Christi com o Papa
Vi pelo site do Vaticano que haveria uma missa com o Papa justamente no dia que estaríamos lá.
Muita sorte!
A missa campal foi na área externa da Igreja Giovani in Laterano, a catedral de Roma, considerada a mãe de todas as igrejas do mundo

Almoço: prato feito do restaurante do Vaticano
Jantar: MC Donald`s pois estávamos atrasados para a missa do Papa






3° dia:
Galeria Borghesi
Uma espécie de parque, bem arborizado, onde dentro dele há um palacete antigo que hoje é uma galeria de arte, com várias pinturas e esculturas.

Praças
Há inúmeras praças em Roma, mas ao contrário do que estamos acostumados, elas não tem árvores. É geralmente um pátio de paralelepípedo com uma fonte ou um monumento central.



Fomos na Piazza  di Spagna, Fontana de Trevi (uma das mais famosas, mas estava em reforma), Piazza Navona e Piazza Del Popolo (próxima as ruas mais comerciais de Roma).


Almoço: Trattoria de Enzo
Li em 2 blogs do Brasil que esse restaurante era muito gostoso e típico. Mas é fora da área tursística. Demoramos muito para achar, pegamos vários ônibus, andamos muito a pé, até que, cansados e mortos de fome, pegamos um taxi que nos deixou lá.
O lugar essa simples e familiar e sinceramente, não achamos lá aquelas coisas.
No geral, não achamos os pratos fartos na Itália, sempre saíamos com fome do restaurante. Pode ter sido um azar....

Jantar:
Fomos tomar um drink no bar de gelo e depois fomos para mais uma tentativa frustada de comer uma boa pizza.



The End
E assim terminamos a nossa tão sonhada e planejada viagem pela Europa com a esperança de voltarmos mais vezes, para conhecer mais países e quem sabe, voltar nos mesmos para conhecê-los com mais detalhe.

A experiência é única e a vivência de outra cultura algo fascinante......